Envio de Amostras

Autor: Carla Lopes. Ver página autores.
Última edição: Pathologika, 3 de Março de 2016
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O envio de amostras à anatomia patológica em tempo útil é fundamental para o diagnóstico. No entanto, a qualidade de um exame em anatomia patológica depende de uma boa execução de três fases:

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[mks_tab_item title=”Pré-analítica”]
A fase pré-analítica consiste na preparação do utente, colheita, manipulação, acondicionamento e envio da amostra biológica, antes da chegada ao laboratório. Ou seja, engloba todas as actividades que precedem as técnicas e procedimentos laboratoriais.
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[mks_tab_item title=”Analítica “]
A fase analítica inicia-se com a execução dos procedimentos implementados no laboratório para o processamento da amostra, passando pelo controle interno da qualidade, e termina com a entrega das lâminas ao patologista.
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[mks_tab_item title=”Pós-analítica”]
A fase pós-analítica inicia-se após a visualização microscópica das lâminas e realização do relatório de anatomia patológica, sendo finalizada com a entrega do relatório ao utente.
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Envio de Amostras à Anatomia Patológica

É fundamental a participação de todos os profissionais envolvidos na colheita, acondicionamento e envio de amostras à anatomia patológica, para que o diagnóstico final seja rigoroso e possa proporcionar um tratamento adequado e preciso ao utente.

Qualquer erro na identificação do utente e/ou da amostra pode levar a sérios erros no diagnóstico. No mínimo a identificação do utente deve incluir nome, data de nascimento e género.

Cada amostra deverá vir acompanhada de uma requisição, onde conste:

  • a identificação do utente,
  • identificação do médico que requisita a análise,
  • local de colheita da amostra (incluir, sempre que necessário, diagramas ou outras pistas importantes para a sua orientação),
  • história clínica adequada,
  • exames e lesões prévias (especialmente lesões malignas),
  • tratamentos ou exames complementares prévios,
  • data e hora da colheita,
  • líquido fixador.

Amostras consideradas inadequadas (por ausência das informações descritas ou por má preservação) dificultam ou impossibilitam um diagnóstico correcto, completo e preciso.

Os recipientes para envio de amostras à anatomia patológica:

  • devem ser identificados com etiqueta idêntica à da requisição, no corpo do recipiente (nunca na tampa),
  • devem ser herméticos, preferencialmente de plástico rígido com tampa e com “boca” larga.

Exames Realizados na Anatomia Patológica

  1. Exames extemporâneos
  2. Exames histológicos
  3. Exames citológicos

1. Exames extemporâneos

Amostra biológica (citológica ou histológica) examinada durante um acto cirúrgico para determinar a natureza de um tecido ou lesão ou o estadiamento das margens da excisão.

2. Exames histológicos

Biópsias

As biópsias correspondem a fragmentos de pequenas dimensões, únicos ou múltiplos, em geral com forma irregular e sem aspecto macroscópico característico. Estão incluídas nesta categoria as biópsias endoscópicas do tracto gastrointestinal, biópsias transbrônquicas, produtos de ressecção transuretral (RTU) da bexiga ou próstata, biópsias por agulha grossa da mama, próstata, fígado, rim e outros órgãos em que este tipo de exame possa ser realizado, “punch” de pele, biópsias do colo uterino, produtos de curetagem do endométrio, entre outros.

As biópsias muito pequenas podem ser colocadas em papel de filtro antes da sua introdução no frasco. Este procedimento garante uma melhor orientação dos fragmentos, o que facilita a sua posterior manipulação no laboratório.

Peças operatórias

São consideradas peças operatórias as ressecções parciais ou totais de órgãos, neoplasias de grandes dimensões e produtos de amputação de membros.

[mks_toggle title=”Preservar a Amostra de Histologia” state=”close “]

Embora o fixador ideal esteja longe de ser encontrado, o formol tamponado a 10% é o fixador mais utilizado para a maioria das amostras histológicas em anatomia patológica.

A amostra deverá ser fixada em formol tamponado a 10%, logo após a colheita, para minimizar os efeitos da autólise. A proporção ideal de formol para amostra de tecido é de 10 volumes de formol para um volume de amostra. Quando a peça for demasiado grande para se atingir a proporção adequada, deve ser providenciado o imediato envio da mesma para o laboratório para minimizar os efeitos da autólise. Desde que tenha fixador, não colocar a amostra no frigorífico.

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3. Exames citológicos

Citologia ginecológica

O exame citológico cérvico-vaginal é um dos exames mais importantes do ponto de vista epidemiológico, pois contribui significativamente para a queda da taxa de mortalidade por cancro do colo uterino. Para uma boa acuidade diagnóstica é necessário que a amostra seja de boa qualidade e esta qualidade depende dos procedimentos de colheita, fixação e transporte para o laboratório.

Os exames de citologia cervico-vaginal podem ser efectuados de forma convencional ou através dos métodos conhecidos como citologia em meio-líquido. O resultado é fornecido através de relatório interpretativo com a nomenclatura recomendada pelo Sistema de Bethesda.

[mks_toggle title=”Informações clínicas importantes” state=”close”]
Data da colheita, data da última menstruação, estado hormonal (exemplo gravidez, pós-menopausa), método contraceptivo utilizado, história prévia de neoplasia intra-epitelial, cancro do colo uterino ou extra-genital, história de quimioterapia sistémica, história de radioterapia pélvica, história de cirurgia ginecológica, criocirurgia ou electrocauterização, anormalidades presentes ao exame ginecológico; factores de risco para o cancro do colo uterino (exemplo doença sexualmente transmissível, actividade sexual precoce, número de gestações).

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[mks_toggle title=”Preservar a amostra de citologia vaginal” state=”close”]

Os esfregaços (citologia em lâmina de vidro) devem ser fixados imediatamente para que se evitem artefactos de secagem que prejudicam o diagnóstico.

Imediatamente após a preparação dos esfregaços (citologia convencional), fixar as células com “sprays” fixadores (ex: laca de cabelo), procurando cobrir totalmente a área que contém o esfregaço. O esfregaço e o spray devem estar a uma distância de 15 a 25 cm, pois se o material estiver muito próximo, o jacto poderá espalhar o esfregaço. Por outro lado, se estiver muito distante o material não será fixado correctamente. Não é necessário colocar no frigorífico.

No caso de citologia em meio-líquido, após a colheita a escova deve ser imersa e “agitada” no frasco que contém a solução de preservação das células. Dependendo do método utilizado, assim a escova permanece ou não dentro do tubo. Não é necessário colocar no frigorífico.

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Citologia esfoliativa

O exame de citologia esfoliativa inclui o exame de líquidos e secreções (ex: urina, ascítico, pleural, pericárdico, produto de lavados, entre outros).

Amostras de citologia urinária devem ser obtidas de acordo com o descrito no capítulo citologia urinária.

Amostras de citologia obtidas durante a noite ou durante um fim-de-semana, se não forem enviadas ao laboratório de anatomia patológica, poderão ter de ser refrigeradas. Muitas amostras mantêm-se relativamente bem preservadas durante 48 a 72 horas num frigorifico (2-8ºC) sem fixação, principalmente quando se trata de líquidos pleurais. Outros líquidos, como urina e liquido cefalo-raquidiano, podem deteriorar-se após 24 horas mesmo se armazenadas num frigorífico.

A deterioração pode ser evitada através da adição de igual volume de álcool a 50% ao líquido do doente e colocar no frigorífico. No entanto e apesar de esta técnica se opor à preparação de lâminas secas ao ar, é muito eficaz na detecção de linfomas e leucemias.

Citologia aspirativa

A citologia aspirativa é um exame rápido, pouco doloroso e invasivo com grande utilidade no diagnóstico de lesões palpáveis e não palpáveis. No caso das lesões não palpáveis, o auxílio de métodos imagiológicos é imprescindível.

Este exame é efectuado com uma agulha (normalmente 23-gauge) através da qual se aspira para uma seringa de 10 mL material celular com vista a obtenção de um diagnóstico citológico, o qual é posteriormente colocado em lâminas de vidro. Por norma, estes esfregaços secam ao ar.