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A maioria dos antigénios oferece múltiplos epítopos o que induz a proliferação e diferenciação de uma variedade de clones de células B. Cada um destes clones derivado de uma célula B reconhece um epítopo específico. Os anticorpos séricos resultantes são heterogéneos, compreendendo uma mistura de anticorpos, cada um específico para um epitopo – anticorpos policlonais. A resposta imunológica do anticorpo policlonal facilita a localização, a fagocitose e lise do antigénio mediada pelo complemento, tendo vantagens claras para o organismo in vivo. Infelizmente, a heterogeneidade do anticorpo que aumenta a protecção imunitária in vivo, muitas vezes reduz a eficácia de um anticorpo para uma variedade de utilizações in vitro.
Anticorpos policlonais
O primeiro passo para a produção de um anticorpo é a purificação do antigénio para o qual queremos produzir um anticorpo. Isto pode ser realizado através de técnicas de purificação como a cromatografia e a eletroforese.
Segue-se a imunização do animal com o antigénio de interesse. Este passo é realizado injetando no animal (coelho, cabra, cavalo, etc.) o antigénio juntamente com um conjunto de substâncias que ativam o sistema imunológico, denominados de coadjuvantes. Após alguns dias, o sangue do animal é colhido e através de centrifugação é separado o plasma sanguíneo (soro), dos restantes elementos celulares. É no plasma que se encontram os anticorpos.
Este soro pode ser utilizado logo após a centrifugação (soro total ou “whole serum”), pois a grande maioria dos anticorpos ali presentes são os anticorpos sintetizados contra o antigénio injetado. Além dos anticorpos, este soro total também contém proteínas.
Para a obtenção de um soro mais puro, é importante separar a fração das imunoglobulinas específicas das proteínas totais (soro de fração de imunoglobulinas ou “Ig fraction”). Este grau de purificação é geralmente é realizado através de cromatografia por afinidade, na qual se usa a proteína A ou o próprio antigénio como fase estacionária numa coluna de afinidade, sendo que o anticorpo purificado é libertado da coluna através do uso de uma solução com pH 2,5.
Anticorpos monoclonais
Para fins de pesquisa, diagnóstico e terapêuticos, são preferíveis os anticorpos monoclonais, que derivam de um único clone e, portanto, específicos para um único epitopo.
Poder-se-ia pensar na purificação bioquímica directa de um anticorpo monoclonal a partir de uma preparação de anticorpo policlonal, mas tal não é viável.
Em 1975, Georges Köhler e Cesar Milstein desenvolveram um método para a preparação de anticorpos monoclonais (Figura I4):
- Após imunizarem ratinhos com determinado antigénio, as células do baço são colhidas.
- São seleccionadas as células B normais, produtoras de anticorpos, que ao serem fundidas com uma célula de mieloma (plasmócito tumoral), geram uma célula híbrida, denominada hibridoma.
- Este hibridoma possui as propriedades de crescimento das células imortais do mieloma e segrega o anticorpo produzido pela célula B.
- Os clones resultantes de células de hibridoma, que segregam grandes quantidades de anticorpos monoclonais, podem ser cultivados indefinidamente.
- Após a fusão, as células híbridas são seleccionadas utilizando drogas que matam as células de mieloma não fundidas, enquanto que as células do baço não fundidas têm um tempo de vida limitada e morrem, de modo que apenas os hibridomas sobrevivem.
- Os hibridomas que produzem anticorpos da especificidade desejada são identificados e clonados para uma cultura de células individuais.
- Uma vez que cada clone de hibridoma é um derivado da fusão com uma única célula B, todas as moléculas de anticorpo que ela produz são idênticas em estrutura, incluindo o seu local de ligação ao antigénio e isótipo.
Neste método, as células do baço do ratinho permitem a produção do anticorpo específico, ao passo que a célula de mieloma fornece a capacidade do hibridoma crescer indefinidamente em cultura e deste modo segregar imunoglobulina continuamente.
Ao utilizar células de mieloma (que não têm a capacidade de produzir anticorpos), o anticorpo produzido pelas células híbridas provém apenas das células do baço imunizado.
O significado do trabalho por Köhler e Milstein foi reconhecido quando cada um foi agraciado com o Prémio Nobel.
Esta tecnologia tem revolucionado a utilização de anticorpos, fornecendo uma fonte ilimitada de um anticorpo de especificidade única e conhecida. Os anticorpos monoclonais podem ser utilizados em ensaios serológicos, como sondas de diagnóstico em imunohistoquímica e como agentes terapêuticos.
Haptenos
O acoplamento químico de um hapteno a uma proteína grande, chamada transportador, produz um complexo imunogénico hapteno-proteína. Os animais imunizados com tais complexos, podem produzir anticorpos específicos para:
- o determinante hapteno,
- epítopos não alterados na proteína transportadora,
- novos epítopos formados por partes combinadas do hapteno e do transportador.
Por si só, um hapteno não pode funcionar como um epítopo imunogénico. Mas quando múltiplas moléculas de um único hapteno são acoplados a uma proteína transportadora, o hapteno torna-se acessível para o sistema imunitário e pode funcionar como um imunogénio. Muitas substâncias biologicamente importantes, incluindo medicamentos, hormonas peptídicas e esteróides, podem funcionar como haptenos. Os complexos destes haptenos com transportadores proteicos, podem ser utilizados para produzir anticorpos específicos para o hapteno.
Vantagens e desvantagens dos anticorpos monoclonais e policlonais
A grande vantagem dos anticorpos monoclonais é a sua especificidade absoluta para reconhecer e se ligar a um único epitopo na molécula de antigénio. Desta forma, os problemas associados a marcação inespecífica com os anticorpos policlonais, devido à reactividade cruzada, são normalmente inexistentes. No entanto, a especificidade única para um determinado epítopo, não exclui necessariamente a reactividade cruzada. Ou seja, se o anticorpo monoclonal é dirigido para um epítopo e essa sequência de aminoácidos é partilhada por mais do que um antigénio, o anticorpo monoclonal não oferece vantagem sobre um policlonal.
Uma possível desvantagem do anticorpo monoclonal deriva da sua especificidade. Comparando a sensibilidade e especificidade dos anticorpos monoclonais e policlonais, verifica-se que o anticorpo policlonal pode ser mais sensível, mas menos específico do que o anticorpo monoclonal. Este facto pode ser explicado porque o anticorpo policlonal reconhece vários epítopos diferentes numa única proteína (antigénio), o que proporciona uma forte capacidade de detecção, enquanto que um anticorpo monoclonal reconhece apenas um único tipo de epítopo, o que pode resultar em menos moléculas de anticorpo a ser ligado ao antigénio, resultando em marcação mais fraca.
No anticorpo monoclonal, por causa da fixação ou de processamento histológico, o epítopo de interesse da proteína pode ser alterado, ficando indisponível para a reacção, resultando em nenhuma marcação imunohistoquímica. Este facto explica porque é que alguns anticorpos monoclonais só reagem com amostras a fresco ou em cortes de congelação e não com amostras fixadas e incluídas em parafina.
A tabela I3 resume as principais vantagens e desvantagens dos anticorpos monoclonais e policlonais:
Anticorpo monoclonal |
Vantagens | Desvantagens |
Mais específico | Menos sensível | |
Menor reatividade cruzada | Epítopo de interesse da proteína pode ser alterado por efeitos da fixação | |
Menor variabilidade entre lotes produzidos | Se sequência de aminoácidos é partilhada por mais do que um antigénio = menos especificidade | |
Anticorpo policlonal |
Mais sensível | Menos específico |
Menor custo | Maior reatividade cruzada | |
Maior afinidade intrínseca | Maior variabilidade entre lotes produzidos |