A interpretação – resultado do relatório de citologia gineclógica baseia-se no Sistema de Bethesda. O sistema de Bethesda inclui alterações que se baseiam no conjunto de dados e nos avanços na compreensão da biologia do carcinoma cervical. A expressão “diagnóstico” é substituída por “ interpretação – resultado” no cabeçalho do relatório da citologia cervical. Os participantes da conferência de Bethesda acordaram que a citologia cervical deve ser considerada em primeiro lugar como um “teste de screening que em alguns casos pode servir como uma consulta médica, fornecendo uma interpretação capaz de levar a um diagnóstico”.
Negativo para Lesão Intra-Epitelial ou Malignidade
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Organismos
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O termo spp, seguido do nome do género do microorganismo, designa todos os microorganismos de determinado género, ainda que não pertençam à mesma espécie. Deste modo, por exemplo para o organismo cândida, sempre que cândida spp apareça escrito, designa todos os microorganismos do género cândida.
Género: categoria taxonómica, utilizada na classificação dos seres vivos, que só pode ser designada em latim e que consiste num número de espécies semelhantes ou estreitamente relacionadas
Espécie: grupo taxonômico (categoria sistemática) basilar na ciência da classificação, que é um grupo de seres vivos muito semelhantes e capazes de se reproduzir entre si, produzindo indivíduos tão parecidos uns com os outros como os seus progenitores
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Trichomonas vaginalis
É um protozoário unicelular com flagelo, com uma forma ovoide ou piriforme, que mede aproximadamente entre 15 a 30 µm de comprimento e 7 µm de largura. Movimenta-se por rotação ou oscilação através dos 3 ou mais flagelos, em conjunto com uma membrana ondulante que possui na parte anterior do corpo. É transmitida sexualmente e a infecção desenvolve-se preferencialmente no epitélio pavimentoso onde destrói as células por acção directa, o que vai resultar numa resposta inflamatória muito intensa.
É um organismo cianófilo com núcleo pálido vesicular e localização excêntrica. Contêm por vezes grânulos citoplasmáticos eosinófilicos e os flagelos geralmente não são visualizados. Leptothrix (apresenta-se como filamentos compridos enrolados não septados, não são patogénicos) pode estar associado a T. vaginalis.
Organismos fúngicos morfologicamente compatíveis com Candida spp.
A Candida albicans (assim como a Candida glabratra) é um habitante normal da vagina, que não prolifera nem dá sintomas em condições normais. O seu desenvolvimento pode ter lugar quando o meio vaginal é alterado, em particular o pH. A candidíase pode ser causada por falta ou excesso de higiene. Também está associada ao uso prolongado de antibióticos de largo espectro, diabetes mellitus, gravidez, uso de contraceptivos orais e imunosupressores.
Clinicamente, as utentes apresentam leucorreia branca e espessa acompanhada de comichão e/ou dor durante o acto sexual.
A Candida albicans pode apresentar-se em duas formas: esporulada ou sob forma de hifas ou pseudohifas. A forma esporulada apresenta-se como organismos pequenos capsulados, redondos ou ovais por vezes aos pares, agarrados ou não às hifas e de cor eosinófila. A forma de hifas ou pseudohifas apresenta-se como filamentos longos, septados de cor eosinófila. Por vezes são observadas por baixo de aglomerados de células pavimentosas. As células podem apresentar halos peri-nucleares, membrana irregular, hipercromasia e marginação da cromatina. A cândida altera a afinidade tintorial das células pavimentosas.
A Candida glabatra na sua aparência morfológica geral é parecida com a candida albicans. Os esporos são pequenos, redondos, de tamanho uniforme e com halo. Ao contrário das outras espécies de cândida não formam pseudo-hifas in vivo ou em cultura.
Substituição da flora sugestiva de vaginose bacteriana
A vaginose bacteriana está associada com a substituição dos lactobacilos por microrganismos como Gardenerella vaginalis e espécies bacterióides como Micoplasma spp e Mobiluncus spp. Nas amostras citológicas sugestivas de Gardenerella vaginalis, observam-se bactérias dispersas como pó entre as células epiteliais e também a formação de “clue cell” (células cobertas por pequenas formações coco-bacilares).
Bactérias morfologicamente compatíveis com Actinomyces spp.
Actinomyces são bactérias gram positivas anaerobias habitualmente presentes na boca e nos intestinos. De um modo geral não são patogénicos, no entanto, existem situações em que poderão causar inflamação pélvica podendo levar à infertilidade e até mesmo à morte.
O facto de o DIU (Dispositivo Intra-Uterino), ser constituído por plástico ou metal, pode produzir mudanças bioquímicas e celulares no endométrio e no colo do útero, o que favorece a produção de prostanglandinas dentro do útero. Da mesma forma, se o DIU é constítuido por cobre, pode existir a libertação de pequenas quantidades de radicais livres. Tanto as prostaglandinas como os radicais livres, fazem baixar as concentrações de oxigénio na vagina, criando o ambiente propicio para o crescimento de Actinomyces. Também o fio do DIU favorece a ascensão do Actinomyces até à cavidade uterina.
Pode existir Actinomyces em mulheres não portadoras de DIU. Este facto pode dever-se às conductas sexuais (sexo oral, sexo oral-genital e coito anal-vaginal).
Em doentes assintomáticos com identificação de Actinomyces pela citologia, recomenda-se retirar o DIU (se a mulher for portadora de um). A colocação do DIU só deverá ser feita quando as próximas citologias não apresentarem esta bactéria.
Citologicamente, Actinomyces apresentam-se como uma esfera central de filamentos longos e estreitos em direcção à periferia, muito semelhante a um “novelo de lã”.
Alterações celulares consistentes com o vírus herpes simples (HSV)
É um vírus de transmissão sexual. Os tipos I e II aparecem no aparelho reprodutor feminino e acredita-se que o tipo II é promotor de cancro do colo do útero. O vírus fica latente no hospedeiro e é activado em situações de stress e na gravidez. A infecção por Herpes é identificada pelas alterações que provoca nas células epiteliais. As células apresentam multi-nucleação, moldagem dos núcleos, marginação da cromatina com aspecto de “vidro martelado”. Em estadios mais avançados, e no herpes tipo II, podem existir inclusões eosinófilas intra-nucleares.
Outros Achados Não-Neoplásicos
Incluem-se nesta categoria, alterações celulares reactivas associadas a factores “externos”.
Inflamação (inclui a reparação típica)
A inflamação pode ter causas mecânicas ou físicas (DIU, trauma), químicas (pílula, quimioterapia) e microrganismos (bactérias, vírus, fungos e protozoários). As alterações são reversíveis e inespecíficas ou associadas a um organismo especifico.
A inflamação é desencadeada no corpo humano com o objectivo de destruir, diluir, isolar o agente causador, mas por outro lado desencadeia uma série de eventos de forma a poder cicatrizar e reconstituir o tecido danificado.
Citologicamente o núcleo apresenta discreta cariomegália (sem nenhum detalhe nuclear e sem inversão da relação núcleo/citoplasma), ligeira irregularidade da membrana, marcada picnose nuclear geralmente associada a cariorrexis, binucleação ou multinucleação, hipercromasia ou hipocromasia com marginação da cromatina, um ou múltiplos nucléolos proeminentes. O citoplasma pode apresentar policromasia, anfofilia ou eosinofilia, presença de vacúolos, halos perinucleares. Pode também ocorrer redução ou aumento do citoplasma.
Nas células endocervicais e metaplásicas pode haver infiltração por polimorfonucleares.
O fundo apresenta um grande número de leucócitos (neutrófilos), sangue fresco ou velho fragmentado com fibrina. As alterações reparativas resultam de lesões no epitélio cervical com proliferação de células de reserva, que crescem para que exista re-epitelização do foco de ulceração.
Na reparação típica observam-se grupos de células imaturas alongadas, com o núcleo aumentado, cromatina pálida e macronucléolos proeminentes, além de mitoses ocasionais, sendo que estes dois últimos aspectos refletem a síntese activa de proteínas nas células de crescimento rápido, na tentativa de reparar o tecido danificado. As células de reparação apresentam manutenção da polaridade, grupos de células coesas, com bordos citoplasmáticos indistintos e geralmente ausência de células isoladas anormais. A cromatina é finamente granular, regularmente distribuída e não hipercromática.
Radiação
O efeito da radiação (radioterapia) nas células pode permanecer durante vários anos (até 20), mas normalmente desaparecem após um curto período de tempo.
As alterações associadas à radiação devem ser distinguidas da atrofia causada pelas hormonas, da inflamação, efeito de agentes citostáticos e da deficiência de ácido fólico.
Após a radioterapia o epitélio torna-se atrófico, existem células juntamente com resíduos celulares e sangue abundante. É frequente a presença de histiócitos mono e multinucleados (células gigantes).
Após a fase aguda, existem células epiteliais com formas celulares bizarras, macrocitose (células volumosas com relação núcleo/citoplasma mantida), núcleos aumentados com cromatina homogénea, multinucleação e células gigantes multinucleadas. Também pode ocorrer alterações degenerativas, nomeadamente anfofilia, cariorrexis, cariólise, vacuolização citoplasmática e por vezes nucléolos proeminentes.
Diagnóstico diferencial
Efeito citopático provocado pelo vírus herpes simples
Neoplasia recorrente
LSIL
Dispositivo intra-uterino (DIU)
Os dispositivos intra-uterinos são constituídos por polietileno, com ou sem adição de substâncias metálicas ou hormonais, que exercem efeito anticoncepcional quando colocados dentro da cavidade uterina.
O DIU provoca um efeito anti-fertilidade de uma forma diversificada, com o objectivo de interferir no processo reprodutivo antes mesmo do óvulo conseguir atingir a cavidade uterina:
Estimula reacção inflamatória de uma forma constante no útero, por se tratar de um corpo estranho na cavidade uterina. A concentração de diversos tipos de leucócitos, prostaglandinas e enzimas nos fluídos uterino e tubáricos aumentam consideravelmente, nomeadamente nos DIUs constituídos por cobre.
Existem alterações bioquímicas que interferem no transporte dos espermatozóides no aparelho genital, bem como alteração dos espermatozóides e óvulos impedindo a fecundação.
Geralmente, o uso de DIU pode estar associado a Actinomyces juntamente com um padrão inflamatório, fibroblastos e histiócitos mono e multinucleados.
As células endocervicais apresentam vacúolos citoplasmáticos contendo granulócitos, nucléolos evidentes, mitoses e hipertrofia das células.
As células endometriais encontram-se em pequenos grupos ou isoladas (em anel de sinete, fazendo diagnóstico diferencial com adenocarcinoma endometrial), citoplasma abundante e vacuolizado, núcleos hipercromáticos com cariomegália, presença de nucléolos e cromatina granular. As células isoladas podem mimetizar lesão de alto-grau, e apresentam núcleo hipercromático com cariomegália, relação núcleo/citoplasma aumentada e nucléolos.
Podem aparecer calcificações semelhantes a psammoma bodies.
Diagnóstico diferencial
Adenocarcinoma
HSIL
Estado das células glandulares pós-histerectomia
As células glandulares semelhantes às células endocervicais têm uma frequência de 2% em amostras de mulheres pós-histerectomia. São células com aspecto normal e não apresentam malignidade. A presença destas células pode estar associada a uma história anterior de malignidade ginecológica, quimioterapia/radiação, processos benignos de reparação.
Atrofia
A diminuição da produção de hormonas após a menopausa leva a uma atrofia epitelial da mucosa pavimentosa com diminuição do número de camadas celulares. A mucosa torna-se frágil, estando mais susceptível a processos inflamatórios. Ao nível endocervical, há uma diminuição da secreção de muco.
As características celulares comuns na atrofia incluem hipercromasia nuclear (geralmente uniforme), núcleo frequentemente alongado, ausência de atipia visível nas camadas superiores e ausência de mitoses.
Os esfregaços apresentam predomínio de células parabasais em grupos ou isoladas.
O espectro de alterações nas células epiteliais pavimentosas associadas a uma idade avançada incluem:
- Atrofia convencional com morfologia imatura mas citológicamente suave.
- Distúrbios na maturação celular com presença de pseudo-coilócitos. Algumas células podem ter características semelhantes a metaplasia de transição.
- Atrofia com maturação parcial e ligeiro aumento nuclear focal bem como hipercromasia.
- Lesões muito celulares com actividade mitótica coexistindo com o diagnóstico de HSIL.
Alterações das Células Epiteliais Pavimentosas
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De acordo com a classificação de Bethesda 2001, a categoria de células pavimentosas atípicas (ASC) inclui células com alterações mais acentuadas que aquelas que ocorrem em processos reactivos, mas que não preenchem os critérios para lesão intraepitelial. Estas células não são de aparência normal e, portanto, são atípicas.
O diagnóstico de células pavimentosas atípicas (ASC) é o diagnóstico mais comum no exame de Papanicolaou e é relatado em cerca de 5 por cento de todos os testes de rastreio do colo do útero.
A categoria ASC é sub-dividida em:
ASC-US – alterações nas células pavimentosas de significado indeterminado.
ASC-H – alterações nas células pavimentosas que não podem excluir lesão de alto grau.
São vários os critérios para a atribuição de ASC, que devido à subjectividade de alterações celulares desta categoria diagnóstica, não pode ser atribuído apenas com a valorização de um dos critérios. Por exemplo, poderá haver aumento nuclear, mas não havendo irregularidade na membrana nuclear nem na cromatina, este critério pode estar associado a processos benignos e não a ASC.
A interpretação de ASC requer que as células pavimentosas demonstrem 3 características essenciais:
- Diferenciação pavimentosa
- Aumento da relação núcleo/citoplasma
- Ligeira hipercromasia, cromatina granular ou multinucleação
Células pavimentosas de significado indeterminado (ASC-US)
Os critérios citológicos para ASC-US têm como objectivo a identificação de anormalidades que vão desde as alterações reactivas, de reparação às lesões intraepiteliais pavimentosas. Se existem alterações sugestivas de coilócito (não sendo um verdadeiro coilócito), o diagnóstico de ASC-US pode ser equacionado, mas não deve ser apenas baseado na presença de halos citoplasmáticos.
Essencialmente, ASC-US caracteriza-se por alterações celulares que levantam a possibilidade de um percursor de cancro. É pouco provável que ligeiras alterações como cariomegália, halos citoplasmáticos e células normais com paraqueratose, possam significar factores de alto risco para cancro.
O aumento nuclear está normalmente associado a uma proliferação benigna mas também pode ser indicador de SIL (squamous intraepithelial lesions).
Para ser considerado “um verdadeiro ASC-US” o núcleo terá que estar aumentado 2 a 3 vezes o tamanho normal da célula. A hipercromasia nuclear pode ser mais que o normal, mas o diagnóstico de lesão não pode ser feito sem a existência da cromatina grosseira ou irregularidades da membrana nuclear. Hipercromasia associada a diminuição da relação núcleo citoplasma, aparência degenerada, ou com disposição regular, são critérios mais característicos de processos benignos.
A categoria ASC-US pode ser subdividida conceptualmente em vários padrões morfológicos. No entanto, as células superficiais com ligeiras atipias podem gerar menos preocupação que as células de metaplasia imatura com atipia pois estas podem confundir-se com HSIL (que têm uma aparência metaplásica).
Os critérios citológicos para ASC-US são os seguintes:
Aumento nuclear:
2/½ a 3 vezes o tamanho do núcleo de uma célula intermediária normal.
1½ a 2 vezes o tamanho do núcleo de uma célula metaplásica normal.
Aumento considerável da relação núcleo /citoplasma
Membrana nuclear finamente granular e distribuída de forma homogénea
Cromatina finamente granular e distribuída de forma homogéna
Hipercromasia nuclear de ausente a ligeira
Núcleolos imperceptíveis ou ausentes
Efeito citopático de HPV e/ou binucleação, alterações de HPV, mas que ainda não se enquadram em lesão intraepitelial de baixo grau (LSIL).
Paraqueratose atípica pode estar presente com pleomorfismo celular mínimo, ligeiro aumento do tamanho do núcleo e cromatina vesicular.
Quando é avaliada a componente metaplásica observar que:
as irregularidades nucleares não são devidas a vacúolos que empurram o núcleo para uma forma mais aberrante.
o padrão de cromatina é finamente granular e distribuído homogeneamente.
os nucléolos são geralmente ausentes a não ser que esteja a ocorrer um processo reactivo em conjunto com atipia.
Nesta situação, considerar diagnóstico diferencial dependendo da presença ou ausência de outros critérios.
Lesão intra-epitelial de baixo grau (LSIL)
A lesão intraepitelial de baixo grau (LSIL) ocorre em 2% de todas as amostras de citologia cervico-vaginal e é causada por um elevado número de diferentes vírus do papiloma humano (HPVs), incluindo os de baixo e alto risco. Muitas LSIL regridem espontaneamente, mas algumas persistem por longos períodos. Aproximadamente 21% progridem para HSIL.
A displasia pavimentosa é caracterizada pela presença de algumas características anormais nas células. Este grau de displasia imita a maturidade das células envolvidas, por exemplo, células com displasia ligeira assemelham-se a células metaplásicas maduras (superficiais, e intermediárias) enquanto que as lesões mais severas se encontram no epitélio menos maduro (parabasais e/ou células metaplásicas).
A lesão intraepitelial de baixo grau, engloba alterações celulares associadas a efeitos citopáticos provocados pelo HPV, nomeadamente, coilócitos e displasia leve ou CIN I.
Comparativamente, os núcleos de LSIL têm mais atipia que os encontrados em ASC-US e têm uma relação núcleo/citoplasma menor que HSIL ou carcinoma.
Os critérios citológicos para LSIL são os seguintes:
Células com limites citoplasmáticos distintos, indicando epitélio maduro (células intermediárias e superficiais) e células metaplásicas.
Células aparecem predominantemente isoladas ou em agregados.
Núcleo 3-4 vezes o tamanho do núcleo de uma célula intermediária normal .
Núcleo varia significativamente de forma e de tamanho, com membrana nuclear suave a irregular.
Os efeitos provocados pelo HPV podem ser evidentes na binucleação ou multinucleação.
Cromatina ligeiramente mais grossa mas uniformemente distribuída – pode aparecer degenerada ou mais carregada se os efeitos citopáticos provocados pelo HPV forem evidentes.
Hipercromasia variável
Cavitações citoplasmáticas bem definidas – coilócito
Grandes halos perinucleares ou vacúolos sem os critérios acima descritos não se enquadram nesta categoria
Diagnóstico diferencial
Alterações reactivas
Halos inespecificos nas células pavimentosas
Células endocervicais reactivas
ASC-US
Não se pode excluir lesão-intraepitelial de alto grau (ASC-H)
Para um diagnóstico de ASC-H, o citopatologista deve primeiro excluir neoplasia intraepitelial cervical moderada / grave ou carcinoma in-situ (CIN3/HSIL). Em alguns casos, as mulheres com resultados de ASC-H podem ser diagnosticadas com lesão de alto grau (HSIL) ou neoplasia cervical invasiva no seu “follow up”.
Os critérios citológicos para ASC-H são os seguintes:
Células geralmente isoladas ou em pequenos agrupamentos com menos de 10 células.
Células pequenas (do tamanho das células metaplásicas) com aumento nuclear de ½ a 2 ½ vezes o tamanho de um núcleo normal.
Relação núcleo/ citoplasma (N/C) aproximadamente o de HSIL
Anormalidades nucleares, nomeadamente hipercromasia, irregularidades da cromatina, irregularidades nas formas nucleares a favor da interpretação de HSIL.
Lesão intra-epitelial de alto grau (HSIL)
HSIL é uma lesão intraepitelial de alto grau, das células pavimentosas imaturas, e é encontrada em cerca de 0.5% de todas as amostras cervico-vaginais. Em 97% das mulheres com diagnóstico de HSIL é encontrado o tipo de HPV de alto risco.
HSIL engloba a displasia moderada (CIN II), displasia grave (CIN III) e carcinoma in situ.
Os critérios citológicos para HSIL são os seguintes:
Alterações citológicas que afectam as células imaturas.
Aumento acentuado da relação núcleo/citoplasma.
Células isoladas, em folhetos ou em agregados sinciciais.
Grupos hipercromáticos devem ser avaliados cuidadosamente.
Hipercromasia nuclear é acompanhada de variações no tamanho e forma nuclear.
Cromatina pode ser fina a grosseiramente granular e uniformemente distribuída.
Contorno da membrana nuclear muito irregular e frequentemente com recortes “dentados” proeminentes.
Nucléolos geralmente ausentes, mas podem ser observados ocasionalmente, particularmente quando o HSIL se estende até às glândulas endocervicais.
Aparência do citoplasma é variável – pode ter aspecto imaturo, rendado e delicado ou densamente metaplásico. Ocasionalmente o citoplasma pode ser maduro e densamente queratinizado.
Diagnóstico diferencial
Metaplasia pavimentosa
Atrofia
Células endometriais
Cervicite folicular
Histiócitos
Efeitos do uso de DIU
ASC-H
ASC-US associado a atrofia
Adenocarcinoma in situ
Carcinoma de células pavimentosas
Alterações celulares com características suspeitas de invasão
Em alguns casos de HSIL pode existir grande dificuldade de excluir carcinoma invasivo. Esta situação coloca-se quando são observadas células altamente pleomórficas com citoplasma queratinizado mas que não são acompanhadas com outros critérios, nomeadamente características de invasão (diátese tumoral ou necrose). Também podem ser observadas características de invasão mas não se identificarem células malignas.
Carcinoma de células pavimentosas
O carcinoma de células pavimentosas (ou carcinoma de células escamosas), pode aparecer em qualquer idade a partir da segunda década da vida. O pico de incidência tem ocorrido numa idade cada vez menor: 40 a 45 anos para o carcinoma invasivo e 30 anos para lesões pré-cancerígena de alto grau. O HPV 16 é encontrado em cerca de 50% a 60% dos carcinomas de células pavimentosas e o HPV 18 em 10% a 15%.
Pode ser dividido em carcinoma queratinizado e carcinoma não queratinizado.
Os critérios citológicos para o carcinoma de células pavimentosas são os seguintes:
Carcinoma queratinizado
Poucas células presentes, muitas vezes isoladas ou raramente em agregados
Marcada variação no tamanho e na forma nuclear, presença de “spindle cells” que frequentemente contem citoplasma queratinizado e acentuado pleomorfismo.
Padrão da cromatina, quando perceptivel, grosseiramente granular e irregularmente distribuída .
Macronucléolos podem estar presentes.
Associado a “hiperqueratose” e “paraqueratose pleomórfica”, mas pode não ser suficiente para a interpretação de carcinoma se não houver anormalidades nucleares.
Diátese tumoral pode estar presente
Carcinoma não queratinizado
Células isoladas ou agregados sinciciais com bordos mal definidos.
Células menores que as células de HSIL, mas exibindo as características de HSIL
Núcleo com acentuada irregularidade, cromatina grosseira e mal distribuída
Pode apresentar diátese tumoral.
Diagnóstico diferencial
HSIL
Atrofia atipica
Reparação atipica
Células endometriais benignas
Doença de Behçet
Pênfigo vulgar
Alterações das Células Epiteliais Glandulares
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Células endocervicais atípicas (sem outras especificações SOE ou especificar nos comentários)
Células endocervicais que dispõem de atipia nuclear que excede alterações reactivas ou alterações reparativas mas que ainda não possuem características de adenocarcinoma in situ ou adenocarcinoma invasivo.
Critérios celulares:
- Células em folhetos com aglomeração de células e sobreposição nuclear
- Aumento nuclear, 3 a 5 vezes a área de um núcleo de uma célula endocervical normal
- Alguma variação no tamanho e na forma do núcleo
- Ligeira hipercromasia
- Nucléolo pode estar presente
- Raras mitoses
- Citoplasma bastante abundante, mas relação núcleo/ citoplasma (N/C) aumentada.
Células endometriais atípicas (SOE ou especificar nos comentários)
Células endometriais que dispõem de atipia nuclear que excede alterações reactivas ou alterações reparativas mas que ainda não possuem características de adenocarcinoma in situ ou adenocarcinoma invasivo.
Critérios celulares:
- Células em pequenos grupos, normalmente 5 a 10 células por grupo
- Núcleo ligeiramente aumentado quando comparado com células endometriais normais
- Ligeira hipercromasia
- Pequeno nucléolo
- Escasso citoplasma e ocasionalmente vacuolizado
- Bordos celulares definidos
Células glandulares atípicas (SOE ou especificar nos comentários)
Células glandulares (endometriais e/ou endocervicais) que dispõem de atipia nuclear que excede alterações reactivas ou alterações reparativas mas que ainda não possuem características de adenocarcinoma in situ ou adenocarcinoma invasivo.
Células endocervicais, possivelmente neoplásicas
São células endocervicias com atipia, mas que morfologicamente (qualitativamente ou quantitativamente) não caem na interpretação de adenocarcinoma in situ ou adenocarcinoma invasivo.
Critérios celulares:
- Células anormais em folhetos ou em tiras, com sobreposição nuclear e aglomeração.
- Alguns grupos de células podem exibir “feathering” ou rosetas.
- Núcleo aumentado com alguma hipercromasia.
- Mitoses ocasionais.
- Aumento significativo da relação núcleo/citoplasma (N/C), com diminuição considerável de citoplasma. Os bordos celulares podem ser bem definidos.
Diagnóstico diferencial
Células endocervicais reactivas
ASC-H
HSIL
Adenocarcinoma endocervical in situ (AIS)
O Adenocarcinoma in situ é um precursor do adenocarcinoma cervical. É caracterizado por um aumento nuclear, hipercromasia, estratificação e actividade mitótica, mas sem invasão.
Critérios celulares:
- Células em grupos, folhetos, tiras e rosetas com sobreposição nuclear e perda do padrão favo-de-mel. Células anormais isoladas não são comuns.
- Ausência de bordos citoplasmáticos.
- Grupos de células com arranjo nuclear em paliçada e núcleos em diferentes níveis no citoplasma (“feathering”).
- Aumento nuclear de forma variável, desde a oval a alongada.
- Hipercromasia nuclear com a cromatina uniformemente dispersa e caracteristicamente grosseiramente granular.
- Nucléolo pequeno ou imperceptível.
- Mitoses ocasionais.
- Aumento da relação núcleo/citoplasma.
- Fundo limpo (sem diátese tumoral ou restos inflamatórios).
- Presença ocasional de células pavimentosas anormais pode indiciar coexistência de lesão pavimentosa.
Diagnóstico diferencial
Células endometriais
Metaplasia tubária
Células endocervicais reactivas
Alterações reactivas
HSIL
Adenocarcinoma invasivo
Adenocarcinoma endocervical
Critérios citológicos que se sobrepõem às descritas em adenocarcinoma endocervical in situ (AIS), mas que podem apresentar características de invasão.
Critérios celulares:
- Células anormais em abundância, com configuração colunar típica.
- São geralmente observadas células isoladas, folhetos dimensionais, grupos tridimensionais e em agregados sinciciais.
- Núcleo aumentado e pleomórfico, com cromatina irregularmente distribuída e membrana nuclear irregular.
- Macronucléolo pode estar presente.
- Citoplasma finamente vacuolizado.
- Diátese tumoral ocasional.
- Podem ser observadas células pavimentosas anormais, representando a coexistencia de componente pavimentosa do adenocarcinoma.
Adenocarcinoma endometrial
O adenocarcinoma endometrial é predominantemente encontrado em mulheres pós-menopausa com um pico de incidência em mulheres perto dos 60 anos. É raro em mulheres com 40 anos. Em cerca de 90% dos adenocarcinomas endometriais as mulheres apresentam hemorragias pós menopausa, mas podem ser assintomáticos.
Critérios celulares:
- Células normalmente isoladas ou em pequenos grupos.
- Nos tumores bem diferenciados, os núcleos podem apenas estar ligeiramente aumentados quando comparados com as células endometriais não neoplásicas, tornando-se maiores com o aumento do grau de tumor.
- Variação do tamanho nuclear com perda evidente da polaridade nuclear.
- Hipercromasia moderada, cromatina irregularmente distribuída e paracromatina clara, particularmente em tumores de alto grau.
- Nucléolo pequeno e proeminente, pode tornar-se maior com o aumento do grau do tumor.
Citoplasma tipicamente escasso, cianófilo e frequentemente vacuolizado. - São comuns neutrófilos intracitoplasmáticos.
- Pode estar presente diátese tumoral finamente granular.
Diagnósticos diferenciais nos adenocarcinomas
Adenocarcinoma endocervical
Adenocarcinoma endometrial
Adenocarcinoma de outros orgãos:
Vaginal
Ovário
Trompas
Metastático
Carcinoma de células pavimentosas
Efeitos do DIU
Atipia de polipo endocervical
Células endocervicais reactivas
Adenocarcinoma in situ
Pênfigo vulgar
Outras Neoplasias Malignas (especificar no relatório)
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Carcinoma de células pequenas
Melanoma maligno
Linfoma
Tumores metastáticos
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