Tanto em biologia como na medicina, são várias as técnicas que usufruem da forte e específica atracção entre um antigénio e um anticorpo, incluindo a medição de antigénio em extractos de tecidos por meio de radioimunoensaio (RIA) e a classificação e análise de populações de células dispersas após conjugadas com um anticorpo fluorescente, ou seja, fluorescent antibody cell sorting (FACS).
No entanto, a imunohistoquímica é a única técnica que pode identificar um antigénio no tecido ou na sua localização celular.
Assim, a definição de imunohistoquímica é a utilização de anticorpos específicos, marcados com reagentes adequados, para a localização de constituintes tecidulares (antigénios) in situ.
A prática da imunohistoquímica teve origem com Albert H. Coons e seus colaboradores (Coons et al, 1941, 1955; Coons e Kaplan, 1950). Eles foram os primeiros a conjugar um anticorpo com um corante fluorescente (isocianato de fluoresceína) e usá-lo para identificar um antigénio em cortes de tecido, ao microscópio fluorescente. Como resultado deste trabalho, a maior parte da incerteza diagnóstica em alguns aspectos da histopatologia, que eram inteiramente dependentes de colorações especiais (histoquímica), deixou de existir.
O primeiro corante fluorescente a ser ligado a um anticorpo foi o isocianato de fluoresceína. No entanto, o isotiocianato de fluoresceína (FITC), rapidamente se tornou o marcador de eleição porque a molécula era muito mais estável e fácil de conjugar o anticorpo (Riggs et al., 1958). Os compostos de fluoresceína emitem verde fluorescente quando excitados a um comprimento de onda de 490 nm.
Seguindo o trabalho inicial de Coons et al, e à medida que melhores anticorpos e mais substâncias se tornaram disponíveis, a técnica desenvolveu-se rapidamente. Foram introduzidos novos marcadores fluorescentes, incluindo o vermelho (ex: Rhodamine Red-X), azul (ex: Alexa fluor) e verde (ex: Cy2), o que permitiu a visualização simultânea de vários anticorpos marcados separadamente numa única lâmina.
Além disso, também foram introduzidos marcadores enzimáticos. Os métodos utilizados para desenvolver os marcadores enzimáticos seguiram o padrão utilizado na histoquímica para identificar enzimas nativas no tecido. A primeira enzima a ser utilizada foi a peroxidase de rábano (horseradish peroxidase) e visualizada com um cromogénio apropriado tal como diaminobenzidina (DAB) (Nakane e Pierce, 1966; Avrameas e Uriel, 1966).
Outras enzimas incluiram a fosfatase alcalina (Sammons e Mason, 1978), a glicose-oxidase (Suffin et al., 1979) e a beta-D-galactosidase (Bondi et al., 1982). O produto final da reacção de algumas destas reacções enzimáticas pode ser electronodenso, mas outros marcadores intrinsecamente electronodensos, tais como a ferritina (Singer e Schick, 1961) e partículas de ouro coloidal (Faulk Taylor, 1971), foram utilizados para imunomarcação de anticorpos.
Uma série de desenvolvimentos técnicos em imunohistoquímica criaram sistemas de detecção sensíveis. No entanto, apenas desde o início dos anos 1990, o método encontrou aplicação geral em anatomia patológica. Entre eles, a técnica de conjugação de anticorpos com a enzima peroxidase, foi a que teve a primeira aplicação prática para detectar antigénios em tecidos embebidos em parafina e superou algumas das limitações dos métodos de fluorescência anteriores. Estes estudos pioneiros, utilizando marcadores enzimáticos em vez de corantes fluorescentes, abriram a porta para o desenvolvimento de métodos modernos de imunohistoquímica.
Uma das questões mais críticas para o desenvolvimento de técnicas de imunoperoxidase estava relacionada com a necessidade de se conseguir uma maior sensibilidade, sendo que os objectivos da imunohistoquímica são semelhantes aos de histoquímica.
Na verdade, a imunohistoquímica baseia-se nos fundamentos da histoquímica, não a substituindo, servindo antes como um adjunto valioso no diagnóstico, na medida em que é muito maior a variedade de componentes do tecido (antigénios) que pode ser especificamente demonstrado.
O princípio base fundamental da imunohistoquímica, tal como com qualquer outro método de coloração especial, é uma localização específica de componentes alvo na célula e no tecido, com o mínimo background (fundo). Amplificar o sinal e ao mesmo tempo reduzir a coloração não específica de fundo, é a principal estratégia para alcançar um resultado útil, adequado e de qualidade.