O tumor da bexiga pode ser classificado em três tipos, considerando o tipo de células envolvidas:
- carcinoma de células uroteliais
- carcinoma pavimento celular
- adenocarcinoma
O que tem maior prevalência é o carcinoma de células uroteliais com cerca de 90% dos casos reportados. Há duas lesões percursoras diferentes para o carcinoma urotelial invasivo. A mais comum são os tumores papilares, que parecem surgir da hiperplasia papilar urotelial. A outra lesão percursora é o carcinoma urotelial plano, também denominado carcinoma in situ (CIS). (Figura C2)

Figura C2 – Padrões Morfológicos de Tumores Vesicais
Por razões ainda não conhecidas, a incidência do carcinoma urotelial tem vindo a aumentar, e ocorre três vezes mais em homens. É frequente em idade superior a 50 anos, e está associado com hábitos tabágicos e outros factores de risco que incluem a exposição a elevado número de agentes ocupacionais, como aminas aromáticas, agentes alcalinos, entre outros.
Os doentes tratados com ciclofosfamida, usada para o tratamento de esclerose múltipla, têm risco aumentado de desenvolver tumor na bexiga.
O carcinoma urotelial tem um grande número de alterações genéticas e estão envolvidos múltiplos e diferentes cromossomas. Por esse motivo, têm vindo a ser testados múltiplos biomarcadores para detecção precoce deste tipo de tumor.
NEOPLASIAS UROTELIAIS PAPILARES
Papiloma Urotelial
No papiloma urotelial, o epitélio dispõe-se num arranjo papilífero, ao longos dos eixos conjuntivo-vasculares. O epitélio do papiloma é semelhante ao do epitélio normal, sem atipias ou mitoses na camada basal, que, a existirem, são raras. Por este motivo, o diagnóstico de papiloma é estritamente histológico, sendo compatível com diagnóstico “Negativo para neoplasia” citologicamente.
Neoplasia papilar urotelial de baixo potencial maligno (PUNLMP)
Na última classificação do WHO, a neoplasia papilar urotelial de baixo potencial maligno é definida histologicamente como uma lesão papilar, com mínima atipia, com aumento da proliferação celular superior à espessura normal do epitélio.
A única distinção que existe entre a PUNLMP e o carcinoma de baixo grau tem a ver com o grau de atipia das células uroteliais.
Carcinoma urotelial de baixo grau
O carcinoma urotelial de baixo grau é definido como uma neoplasia com moderada atipia nuclear. Citologicamente é de difícil diagnóstico, com uma sensibilidade de 30% e uma especificidade de 80%. Na maioria dos pacientes com este diagnóstico citológico, histologicamente não se verifica tumor. Citologicamente estes tumores são caracterizados por um aumento da celularidade, e pela presença e pelo aumento de grupos papilares ou não papilares de células uroteliais.
Estas células têm citoplasma homogéneo, aumento da relação núcleo/citoplasma com abaulamento dos núcleos para o citoplasma e membrana nuclear irregular. A cromatina é granular e uniformemente distribuída. O nucléolo é imperceptivel e por vezes ausente.
Dignóstico diferencial
PUNLMP
Carcinoma urotelial de alto grau
Citologicamente o carcinoma urotelial de alto grau é de fácil diagnóstico com elevada sensibilidade e especificidade, devido à presença de células anaplásicas. Existe perda de polaridade celular, variação no tamanho das células, células pleomórficas, núcleos hipercromáticos, aumento da relação núcleo/citoplasma, cromatina grosseiramente granular e aumento da actividade mitótica.
Nucléolo proeminente, membrana nuclear irregular. Fundo com sangue, mas não existe diátese. Também poderá aparecer “canibalismo” nas células, parece ser indicador de alto grau e invasão.
Diagnóstico diferencial
Polioma vírus
Atipia provocada por cálculos
Células normais obtidas por lavagens e escovados
Efeitos de tratamento
Alterações reactivas inespecíficas
Carcinoma in situ (CIS)
O carcinoma in situ é uma lesão precursora da maioria dos carcinomas uroteliais invasivos. É definido pela presença de quaisquer células citologicamente malignas no urotélio plano. O carcinoma in situ (CIS) pode variar desde atipia citológica em toda a espessura do epitélio até células malignas disseminadas no urotélio sem outras alterações.
A falta de coesão celular, leva à eliminação das células malignas pela urina, é um dos critérios partilhado entre o carcinoma in situ e o carcinoma urotelial papilar de alto grau. Algumas células malignas contêm corpos de Melamed-Wolinska, que são inclusões intracitoplasmáticas eosinófilas.
Carcinoma pavimento celular
O carcinoma pavimento celular é raro e está fortemente associado com o Schistosoma haematobium. É caracterizado citologicamente por queratinização citoplasmática, pérolas de queratina e núcleo hipercromático.
Adenocarcinoma
O adenocarcinoma ocorre em células glandulares, que se formam na bexiga após um longo periodo de inflamação ou irritação. Geralmente surgem em dois locais comuns, na área basal da bexiga e na cúpula da bexiga. Correspondem da 1% dos casos diagnosticados.
Carcinoma de células claras
O carcinoma de células claras da bexiga é extremamente raro e assemelha-se ao carcinoma de células claras do aparelho genital feminino.
É caracterizado pela presença de pequenos agrupamentos redondos de células malignas, citoplasma claro e abundante, núcleo aumentado e irregular, cromatina vesicular e nucléolo proeminente.
Carcinoma de pequenas células
O carcinoma de pequenas células é muito raro, sendo que o prognóstico é mais favorável do que o tumor de pequenas células noutros orgãos. O diagnóstico diferencial inclui lesões metastáticas, especialmente do pulmão.
Tumores secundários
É raro mas podem ser visualizadas células de adenocarcinoma da próstata em lavados vesicais e na citologia urinária. As células estão em agrupamentos e com nucléolos proeminentes. Os carcinomas de células renais também podem descamar, podendo aparecer na urina ou nos lavados. As células estão degeneradas, o citoplasma vacuolizado e os núcleos são grandes com nucléolos proeminentes.
Em caso de tumores do aparelho genital feminino, devido à proximidade dos orgãos à parede vesical, podem ser observadas células de carcinoma pavimentoso, adenocarcinoma do colo do útero, tumores epiteliais do ovário ou do cólon.
- Tabela C5 – Categorização da classificação das alterações celulares no sistema urinário
Categorização |
Diagnóstico |
Comentário |
Negativo para malignidade | Células uroteliais normais
Células uroteliais reactivas |
Descrição de elementos adicionais celulares e não celulares, por exemplo: inflamação, sangue, cristais e cilindros. |
Células uroteliais atípicas | Diagnóstico descritivo | Descrição de elementos adicionais celulares e não celulares, por exemplo: inflamação, sangue, cristais e cilindros. |
Positivo para células malignas | Carcinoma urotelial papilar de baixo grau
Carcinoma urotelial papilar de alto grau Carcinoma in situ Carcinoma urotelial invasivo Adenocarcinoma Carcinoma pavimentoso Carcinoma de pequenas células Outras neoplasias |
Descrição de elementos adicionais celulares e não celulares, por exemplo: inflamação, sangue, necrose |